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Ano 6 Maio/Junho 2006

Resultados
Projeto mostra como vivem e quem são os moradores de programas direcionados à habitação de interesse social




Moradores de condomínios populares nas cidades de Porto Alegre, Canoas, Cachoeirinha e Rio Grande, todas no Rio Grande do Sul, estão de forma geral satisfeitos com sua moradia. Estudos realizados por professores e estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) revelam um grau de satisfação geral elevado - em números redondos, 70 a 90%. Mas também identificam pontos críticos. Há reclamações quanto à integração entre cozinha e sala, áreas de serviço pequenas, falta de local para estender roupas, qualidade do piso, preço elevado do condomínio e inexistência de quadras de esportes. O estudo é realizado pelo Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação (NORIE), ligado à UFRGS. As pesquisas integram o Projeto Requali, financiado pelo Programa de Tecnologia de Habitação (Habitare), da Finep. Além de captar informações que possam auxiliar na concepção de novos empreendimentos, o projeto pretende propor alterações nos processos de planejamento e construção, para que sejam considerados os requisitos dos futuros moradores.

O NORIE/UFRGS selecionou programas que ilustram duas formas de provisão habitacional no Brasil: o Programa de Arrendamento Residencial (PAR) e o Habitar Brasil-BID (HBB). Estes programas foram selecionados porque têm foco sobre a população que representa a maior parte do déficit habitacional brasileiro.

Exemplos títpicos
No caso do PAR, foram selecionados, em conjunto com técnicos da Caixa Econômica Federal (CEF), cinco empreendimentos considerados exemplos típicos. O NORIE procura identificar, segundo a percepção dos moradores e a observação direta dos pesquisadores, as características positivas e negativas desses empreendimentos, o grau de satisfação relativo ao atendimento da empresa, à qualidade da unidade habitacional e à qualidade do condomínio como um todo.


Resultados



Os moradores foram entrevistados em suas residências, a partir de um questionário. Ao mesmo tempo foi realizado o registro do espaço interno da unidade habitacional em fotografias e desenhos. Com relação à adequação ao uso da unidade habitacional (sala de estar e jantar, cozinha, área de serviço, dormitórios e banheiro) todos os empreendimentos apresentaram uma relativa insatisfação com a área de serviço. Essa reclamação foi confirmada pelo registro das mudanças realizadas e daquelas desejadas pelos moradores.

Os resultados do trabalho estão preliminarmente sistematizados em relatórios de pesquisa, onde cada um dos empreendimentos estudados são detalhados por meio de pontos positivos e negativos. A pesquisa também está permitindo o levantamento das alterações que as famílias empreenderam nas moradias para atendimento de suas necessidades. De acordo com a equipe envolvida nos estudos, a meta das avaliações não é somente analisar o produto (no caso, as moradias), mas também avaliar de forma crítica o Programa de Arrendamento Familiar (PAR).




O estudo está ainda proporcionando a observação do perfil dos moradores. Os levantamentos mostram que nos empreendimentos populares há uma grande diversidade – as famílias convencionais (adultos com filhos) correspondem a apenas um terço do total de unidades ocupadas.

A pesquisa identificou perfis familiares diferentes do agrupamento básico estabelecido pela Caixa Econômica Federal (família formada por casal e dois filhos). Nos três empreendimentos PAR estudados em Pelotas, somente 37,80% correspondem a este agrupamento básico. Já no empreendimento PAR estudado em Porto Alegre, somente 15,38% fazem parte do perfil básico estabelecido pela Caixa. De acordo com o relatório preliminar, há também grande diferenciação entre os empreendimentos - fato que merece estudos futuros, sugerem os pesquisadores.

De acordo com a equipe, os requisitos dos diferentes agrupamentos domiciliares levam à uma reflexão quanto ao potencial de flexibilização das unidades habitacionais. "Há um grande potencial de introdução da lógica de customização em massa em empreendimentos PAR, aproveitando as oportunidades de captação de requisitos dos clientes ao logo de todo o processo de desenvolvimento de empreendimentos", documentam os responsáveis pelos estudos em um dos relatórios parciais.

O documento também ressalta o “caráter reativo” dos moradores com relação à pesquisa, já que as informações coletadas servirão somente para futuros empreendimentos, e não para melhoria de suas moradias. “Por este motivo, existe a necessidade de captar requisitos dos clientes finais de forma pró-ativa, através do cadastro inicial dos interessados no arrendamento, para que esses possam ser considerados na etapa de concepção do empreendimento”, ressalta a equipe.

Outra sugestão é que as prefeituras municipais possam contribuir para o desenvolvimento de novos empreendimentos do PAR. Foi constatado nos seminários realizados, principalmente em Pelotas e Caxias do Sul, que as prefeituras necessitam melhorar a realização do cadastro inicial dos interessados, existindo um certo temor de que sejam geradas expectativas na população. "No entanto, o processo de cadastramento da população poderia ser melhorado, incluindo a coleta de requisitos da população-alvo", consideram os pesquisadores.

Além disso, sugerem, o tempo despendido nessa atividade poderia ser reduzido, caso fossem utilizados outros mecanismos mais eficazes, tais como o cadastro via internet, que poderia alimentar uma base de dados única para vários programas habitacionais de uma mesma prefeitura. A equipe alerta para a necessidade de desenvolver novas competências nos municípios para a realização desta atividade. Além disso, que é necessário realizar um trabalho social com relação à expectativa da população, esclarecendo questões relativas ao produto e ao fato de que o cadastro inicial não garante que o interessado poderá vir a ser um arrendatário.


Informações e envio
de material:

Arley Reis
Redação e Edição


Mais informações sobre o projeto:

Carlos Torres Formoso
Professor
Norie / UFRGS
51 3316 4084


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