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Ano 7 Outubro 2007

Habitação de Interesse Social
Projeto organiza diretrizes para reabilitação de edifícios em centros urbanos




Um dos desafios das grandes cidades brasileiras é a gestão dos imóveis vagos. Estimativas indicam que há seis milhões de domicílios subutilizados ou abandonados em centros urbanos. Com o objetivo de colaborar com o processo de recuperação de edifícios em áreas centrais para a habitação de interesse social, durante dois anos o Projeto Reabilita, financiado pelo Programa Habitare, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), analisou experiências em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Foram estudados quatro empreendimentos em cada uma das cidades, para análise de aspectos como o contexto de implantação da reabilitação, procedimentos e financiamentos, legislação, projetos, custos e tecnologias. A partir destas informações, foram elencadas diretrizes para reabilitação de edifícios para a habitação de interesse social.

O estudo foi realizado por pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Católica de Salvador (Ucsal). De acordo com a equipe, o projeto possibilitou contato direto com construtoras, administradoras, técnicos e projetistas, agentes públicos, moradores e movimentos sociais. As diretrizes resultaram também do estudo de bibliografia nacional e internacional sobre o assunto, e de discussões com diversos profissionais e agentes ligados aos processos de reabilitação durante o Seminário Internacional de Reabilitação de Edifícios em Áreas Centrais, realizado em setembro de 2006, em São Paulo.


Referências para recuperação



Por meio dos estudos de caso a pesquisa abordou as principais etapas da reabilitação. Foram caracterizados os diversos níveis de intervenções possíveis e detalhadas as fases da recuperação: diagnóstico do imóvel; identificação dos agentes envolvidos; levantamento e análise da legislação urbanística; elaboração de projeto para reabilitação; planejamento e gestão da produção; e gestão da ocupação.

Quanto à fase de diagnóstico, por exemplo, a equipe ressalta a importância do levantamento da situação física, legal e social do empreendimento que será objeto de intervenção. Nesse sentido, detalha orientações para verificação da legislação, regulamentação e normatização edílica. O processo de reabilitação não possui uma legislação específica, mas no trabalho são identificados parâmetros possíveis de serem aplicados, a partir de diversas leis e instrumentos existentes em nível local, estadual, nacional e internacional. Um quadro apresenta os instrumentos legislativos que balizaram e balizam as diferentes formas de intervenção para fins de habitação social nas três cidades estudadas.

O trabalho traz passos para caracterização da propriedade e dos proprietários, e também da situação tributária e financeira da construção que será reabilitada. Inclui dicas para identificação dos programas de financiamento e avaliação da viabilidade financeira. Com relação ao projeto de recuperação, o grupo recomenda que seja elaborado e coordenado por uma equipe multidisciplinar, que trabalhe com o apoio dos técnicos do poder público local, do agente financiador, dos moradores ou das associações de moradores. São também elencadas algumas sugestões para planejamento e gestão da produção, envolvendo etapas de planejamento da obra, execução, acompanhamento e conclusão.

O trabalho inclui ainda diretrizes técnicas para a definição de sistemas construtivos e componentes, considerando os materiais e técnicas tradicionalmente adotadas e disponíveis nas áreas de intervenções. Além disso, questiona o uso constante de materiais convencionais e a rara presença da inovação – por exemplo, a ausência de materiais mais leves, como o gesso acartonado, para divisórias necessárias à transformação dos espaços originalmente comerciais em moradia. Traz ainda orientações para ocupação da edificação. "Pensar a reabilitação é pensar, também, nas condições de sua manutenção futura, é necessário que se tenha modelos de gestão condominial e de gestão urbana. A reabilitação deve ser verificada em várias escalas, que vão do edifício até a sua relação com o entorno", descrevem os pesquisadores.


Limitações



Para o grupo, com o processo de reabilitação apenas iniciando, o Brasil tem ainda muitos desafios neste campo. Entre eles, a necessidade de linhas de financiamento específicas à reforma, contemplando faixas de renda entre um e três salários mínimos, assim como subsídios para viabilizar a reabilitação dos edifícios, manutenção e reformas futuras. Ao mesmo tempo, a equipe defende o papel da reabilitação como geradora de benefícios sociais. "Além de propiciar diversidade social e econômica nas áreas centrais, sem a formação de guetos de pobreza e de exclusão, a reabilitação representa uma alternativa para minimizar o crescente déficit habitacional e as dificuldades enfrentadas nas políticas habitacionais", destacam os integrantes. "A moradia na área central reduz custos do estado com instalações de infra-estrutura, como água, saneamento, iluminação e pavimentação, uma vez que essas áreas já são atendidas por esses serviços e possibilitam uma acessibilidade fácil a equipamentos de saúde, trabalho, educação e segurança, o que dificilmente é garantido nas áreas mais periféricas", avalia o grupo.

"A reabilitação de edifícios para a habitação de interesse social traz à tona a discussão sobre que cidade se quer construir", alerta a equipe em relatório do projeto.

Leia Mais:
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Informações e envio
de material:

Arley Reis
Redação e Edição


Mais informações sobre o projeto:

Witold Zmitrowicz
11-3091 5107

Valeria Bomfim
Pesquisadora Poli/USP
11-3091 9170


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