HyperLinkHyperLink

 
 
Ano 9 Outubro 2009

Habitação de Interesse Social
Pesquisa avalia e gera recomendações para o Programa Entrada da Cidade, de Porto Alegre




O Programa de Tecnologia de Habitação (Programa Habitare), da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), colabora com o acompanhamento de um dos grandes projetos habitacionais em andamento no país – o Programa Integrado Entrada da Cidade (PIEC), em Porto Alegre. O PIEC é coordenado pela Secretaria de Gestão e Acompanhamento Estratégico, da Prefeitura de Porto Alegre, e envolve ações de 14 secretarias e órgãos, abrangendo uma área de intervenção de 8,7 km² da Zona Norte, cerca de 1,75% da área da capital do Rio Grande do Sul. Visa prover habitações para 12,55% do déficit habitacional urbano da cidade, estimado em aproximadamente 30 mil domicílios. Vai além da oferta de moradia: busca atuar conjuntamente em problemas de habitação; saneamento; equipamentos esportivos, de saúde, educação e cultura; sistema viário, infraestrutura; ações de geração de trabalho e renda e de desenvolvimento comunitário.

É o alcance dessa proposta integrada que conta com avaliações do Programa Habitare, executadas por pesquisadores do Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação (NORIE), grupo vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O objetivo do NORIE é analisar o Programa Integrado Entrada da Cidade em fase de desenvolvimento, considerando os objetivos propostos e benefícios alcançados.

Um dos estudos resultou na tese da pesquisadora Luciana Miron, que analisou o processo de desenvolvimento do PIEC, investigou a satisfação e as razões de permanência da população atendida e reassentada nos três empreendimentos habitacionais de interesse social implementados na primeira etapa do programa. A tese foi orientada pelo professor Carlos Formoso, pesquisador da UFRGS integrado à rede ´Ciência, tecnologia e inovação para a melhoria da qualidade e redução de custos da habitação de interesse social`, apoiada pelo Programa Habitare. Projeto de pesquisa posterior resultou em um convênio entre o NORIE/UFRGS e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre para o desenvolvimento de um Modelo de Avaliação de Programas Integrados de Habitação de
Interesse Social.

Resultados
Avaliações realizadas no período de novembro de 2006 (três empreendimentos da primeira etapa do programa) e de junho de 2008 (dois empreendimentos da segunda etapa) indicam impactos positivos do PIEC, como a implantação de rede de água e esgoto, fornecimento de energia, recolhimento de lixo e calçamento, gerando melhoria nas condições de salubridade e habitabilidade. Mostram também desafios, representados por aspectos apontados pelos moradores como negativos.

Os estudos permitiram o levantamento da opinião dos beneficiados pelo PIEC sobre itens como segurança, vizinhança, localização e serviços urbanos. Os resultados trazem percepções bastante variadas. Revelam, por exemplo, que os moradores estão satisfeitos com relação à localização dos empreendimentos (implementados na mesma região dos assentamentos de origem das famílias e próximos ao centro da cidade) e à habitabilidade (em todos os empreendimentos, os serviços urbanos como água, luz e esgoto foram citados como o fator mais importante para a permanência no local).

Por outro lado, os beneficiados reclamam do custo associado aos novos serviços, e este é indicado como um dos principais motivos de evasão das famílias. Mas os levantamentos mostram que 70% a 80% das famílias reassentadas permanecem nos conjuntos habitacionais, dado considerado bastante positivo para programas do gênero. A pesquisa revela também que ações de geração de trabalho e renda podem ser intensificadas, já que a coleta de lixo continuava sendo uma importante forma de subsistência da população moradora dos empreendimentos do PIEC. Além disso, modificações indicam que há necessidade de aumentar o espaço das moradias: pelo menos 20% dos entrevistados realizaram ampliações, assim como uma grande porcentagem pretende realizá-las.


Segurança
“A modificação mais frequente não se refere, entretanto, a uma inadequação de projeto, mas sim à elevada percepção de falta de segurança nos empreendimentos. A colocação de acessórios de proteção foi constatada em pelo menos 30% das unidades entrevistadas e chega até 55% das unidades no empreendimento Santa Teresinha”, informa Luciana.

Nos loteamentos Vila Tecnológica, Santa Teresinha e Arco-Íris, a segurança foi citada como uma das piores características dos empreendimentos. No loteamento Progresso, constatou-se também um baixo nível de satisfação. “Nestes quatro loteamentos, os moradores citaram a violência e crimes como um dos principais motivos que os levariam a não permanecerem morando ali. O único loteamento que apresentou uma percepção positiva da segurança foi o Pôr-do-Sol.”, descrevem os pesquisadores em um dos relatórios do projeto.

Indicadores de qualidade
Em paralelo à análise de percepção dos moradores, o NORIE avaliou o perfil da população beneficiada pelo PIEC, comparando indicadores de qualidade de vida antes e após o reassentamento. Ainda que estes dados sejam preliminares, em função da recente implementação das ações do programa, indicam algumas tendências positivas. Entre elas, a diminuição do índice de analfabetismo, aumento do número de trabalhadores com vínculo e do número de famílias que possuem veículos.

“O PIEC representa bem a complexidade relacionada ao desenvolvimento de um projeto urbano que demanda o gerenciamento conjunto das questões financeira, regulamentar, política, social, ambiental, técnica e da participação das comunidades a serem atendidas”, lembra o professor Carlos Formoso.

Segundo ele, a análise do PIEC mostra também que há oportunidades de melhoria do gerenciamento do programa, especialmente em relação às interfaces entre as diversas secretarias e departamentos envolvidos. Relatório produzido pela equipe traz algumas sugestões. Entre elas, a correção da falta de sincronia do projeto habitacional com o viário, o que resultou em problemas de alagamento, presença de lixo e sinais de vandalismo, influenciando negativamente o PIEC em aspectos relacionados à territorialidade e identidade. Outros pontos que podem ser revistos, na visão dos pesquisadores do NORIE, é a baixa participação da comunidade nas ações do programa e a necessidade de enfatizar mais as ações de cunho social e de geração de emprego e renda.

“Constatou-se, por exemplo, a necessidade de fortalecer as ações do projeto de educação sanitária e ambiental, visando melhor esclarecimento com relação à adequada utilização das unidades”, informa o professor. Os resultados foram apresentados a diversos setores da prefeitura, ao Departamento Municipal de Habitação (Demhab), para a Caixa Econômica Federal e para um grupo de líderes comunitários. Não apenas na forma de críticas ao programa, mas como sugestões para sua melhoria.

O projeto tem apoio financeiro do Programa Habitare, da FINEP, por meio da rede de pesquisa ´Ciência e tecnologia e inovação para a melhoria da qualidade e redução de custos da habitação de interesse social`.

Saiba Mais

Recomendações:
- Sistematizar o armazenamento de dados no sentido de ter um monitoramento contínuo do programa, permitindo a identificação dos principais entraves para a realização das tarefas, bem como das etapas críticas;
- Padronizar a forma de armazenamento e análise de dados entre os diferentes projetos, contribuindo para permitir a realização de avaliações intermediárias e final mais bem fundamentadas;
- Utilizar mais as informações disponíveis em diferentes órgãos municipais na tomada de decisão, incluindo o Portal de Gestão, recentemente criado;
- Incentivar a documentação de erros, falhas, dificuldades por cada secretaria, bem como de oportunidades de melhoria, estimulando a análise crítica e a aprendizagem em equipe;
- A partir de um monitoramento mais eficaz, controlar melhor o processo nas dimensões de tempo e custo, buscando eliminar causas do não cumprimento de prazos e orçamentos;
- Conceber e implementar estratégias para remover ou contornar os entraves principais do programa, apontados nos relatórios;
- Envolver secretarias na geração de soluções e no processo de melhoria contínua, buscando estimular o trabalho em equipes multifuncionais;
- Promover maior integração entre as atividades de concepção e implementação.

Técnicas de Avaliação
- Para a avaliação foram empregadas diferentes técnicas de coleta e análise de dados, tanto quantitativas quanto qualitativas. Com relação às técnicas quantitativas, foi aplicado um questionário aos moradores e a análise de banco de dados contendo informações sobre o perfil desta população.

- A aplicação do questionário foi realizada com o intuito de avaliar o perfil e as percepções da população beneficiária. O instrumento apresentava 41 perguntas fechadas e cinco questões abertas.

- A coleta foi realizada em duas etapas. A primeira população-alvo foi constituída de 413 famílias residentes em três empreendimentos. A segunda abrangeu uma população-alvo composta por um total de 377 famílias residentes em dois empreendimentos.

- Com relação às técnicas qualitativas, foram realizadas observações a campo, mapas mentais, análise sintática espacial, entrevistas com moradores, lideres comunitários e funcionários da prefeitura engajados nas ações do Programa.

- A avaliação dos projetos urbanísticos foi realizada através de observações a campo, que possibilitam identificar, de forma sistemática, o comportamento dos usuários no espaço físico. As observações duravam cerca de uma hora em cada um dos cinco empreendimentos avaliados. Essa análise contribuiu para a verificação da adequação dos espaços que fazem parte dos projetos urbanos do PIEC, para a averiguação da identidade dos empreedimentos investigados, das centralidades existentes em seu interior e na região abrangida pelo PIEC.

- Além das observações em campo, através do uso da ferramenta mapa mental a população foi solicitada a desenhar croquis esquemáticos, de memória, sobre os elementos mais marcantes e importantes percebidos na área do PIEC. Os mapas mentais consistem em descrições gráficas e verbais dos ambientes investigados, com o objetivo de detectar a percepção dos moradores sobre aspectos como identidade, aparência, segurança, acessibilidade, espaços coletivos, etc.

- Foram também realizadas entrevistas estruturadas com líderes comunitários, com funcionários das creches e com funcionários de secretarias municipais

Informações e envio
de material:

Arley Reis
Redação e Edição


Mais informações sobre o projeto:

Carlos Torres Formoso
Professor
Norie / UFRGS
51 3316 4084


Conteúdo relacionado:

Habitação social
Pesquisa mostra como funciona o mercado imobiliário nas favelas brasileiras

Casa no campo
Projeto leva inovações à habitação na área rural

Habitação
Rede de pesquisa avalia empreendimentos populares em cinco estados

Habitação social
Estudo alerta para desafios do novo perfil do Programa de Arrendamento Familiar

Qualidade
Pesquisa da Unicamp propõe inovação no levantamento do valor desejado na habitação de interesse social

Urbanização de favelas
Pesquisa resulta em orientações para planejadores e executores

Moradia
Programa Habitare ressalta desafio de articular pesquisa e políticas públicas no setor habitacional