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Ano 4 Abril/Maio 2004 |
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Avaliação Pós-Ocupação PESQUISA BUSCA INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA NOVOS PROJETOS DE HABITAÇÃO POPULAR

| Repetição e padronização são características que marcam conjuntos habitacionais voltados à habitação de interesse social |
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Um dos maiores empreendedores de conjuntos habitacionais para a população de baixa renda no Brasil, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), ainda usa critérios de projeto em que prevalecem a repetição e a padronização. Em geral, faltam paisagismo e áreas de lazer. Conjuntos habitacionais novos foram inaugurados com um nível mais alto de infra-estrutura urbana mas,em geral, ainda apresentam falhas nos conceitos de implantação. O diagnóstico da habitação popular foi realizado a partir de estudos de Avaliação Pós-Ocupação desenvolvidos por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
As avaliações aconteceram em cinco áreas habitacionais da região de Campinas, São Paulo. A pesquisa de campo deve servir como ponto de partida para estabelecer um método para o desenvolvimento do projeto de novos conjuntos e para sua avaliação. A meta do estudo é a criação de diretrizes que possibilitem o aumento da qualidade de vida e qualidade global dos empreendimentos habitacionais voltados à habitação de interesse social. A pesquisa conta com recursos do Programa de Tecnologia de Habitação (Habitare), financiado pela FINEP, Caixa Econômica Federal e CNPq.
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| “O método que estamos nos propondo a desenvolver deverá permitir ao projetista antever e desencadear as discussões sobre a qualidade dos projetos residenciais voltados à habitação popular”, explica a professora Doris CCK Kowaltowski, do Departamento de Construção e Arquitetura da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp. A professora é coordenadora do projeto ´Análise de parâmetros de implantação de conjuntos habitacionais de interesse social – ênfase nos aspectos de sustentabilidade ambiental e de qualidade de vida´, integrado ao Programa Habitare. No estudo, a qualidade do projeto de conjuntos habitacionais é abordada sob dois aspectos: o impacto físico-ambiental e a qualidade de vida que estes conjuntos habitacionais podem oferecer a seus moradores.
“Tanto os indicadores de sustentabilidade quanto os indicadores de qualidade de vida deveriam permear os métodos de desenvolvimento de projeto”, reforça a professora. Segundo ela, a pesquisa que coordena se baseia na hipótese de que, já no estágio de implantação, um grande número de fatores é definido e pode interferir tanto na qualidade de vida dos futuros usuários quanto no ambiente em que será localizado o empreendimento.
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| Sem planejamento adequado, áreas livres permanecem sem cuidados, abandonadas pelos moradores. |
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As avaliações pós-ocupação mostram que na prática a qualidade dos empreendimentos voltados à habitação popular é medida por sua “eficiência econômica”. Essa eficiência se traduz pelo objetivo de construir o maior número de moradias com o menor custo, que representa uma visão segmentada do problema.
De acordo com o estudo, entre os fatores relacionados à sustentabilidade de conjuntos habitacionais estão a extensão da área de intervenção, a relação entre área livre e edificada e a proporção de área impermeável. Também estão relacionadas à sustentabilidade a orientação e a distância entre as edificações, a relação largura e comprimento dos prédios, a área de vegetação, a modificação da topografia original e as linhas de drenagem natural. Os parâmetros de qualidade de vida relacionam-se à psicologia ambiental, que trata da percepção humana do ambiente e dos sentimentos que estes espaços provocam nos moradores. Estes sentimentos dependem, por exemplo, da sensação de segurança, da privacidade, da individualização do espaço e da percepção da densidade do conjunto habitacional.
Os resultados preliminares da pesquisa de campo demonstram alguns dados importantes. A população declara-se em geral muito satisfeita com as moradias dos conjuntos habitacionais, mesmo apontando problemas de conforto ambiental. A mesma população não percebe falhas na escala urbana dos conjuntos e, em alguns casos, indica que a CDHU poderá adensar mais os projetos para oferecer um maior número de moradias para as famílias carentes.
De acordo com a equipe, as análises apontam para a necessidade de três ações na implantação de conjuntos habitacionais com qualidade. A primeira seria uma mudança nas políticas habitacionais, buscando um aumento de qualidade e humanização dos conjuntos habitacionais de interesse social, com base nas tendências mundiais de projetos habitacionais. Em segundo lugar, o grupo recomenda o uso de metodologias de projeto com inserção de referências internacionais em habitação e sustentabilidade. Também aponta para a necessidade de programas pós-ocupação em conjuntos habitacionais, que envolvam a população na busca da qualidade de vida e na introdução de melhorias no novo habitat.
A pesquisa financiada pelo Programa Habitare permitiu o levantamento de alguns dos principais trabalhos internacionais sobre indicadores ambientais, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. O cruzamento destas informações com os dados obtidos nos estudos de campo na região de Campinas já permitiu a organização de uma lista preliminar de indicadores de sustentabilidade para conjuntos habitacionais de interesse social. A idéia é que esta lista seja refinada e validada nos estudos ainda em andamento.
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| Fotos: Projeto ´Análise de parâmetros de implantação de conjuntos habitacionais de interesse social – ênfase nos aspectos de sustentabilidade ambiental e de qualidade de vida´. Unicamp.
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